Compartilhamento de dados e BYOD - Alguns benefícios
- Fujiwara
- 8 de ago. de 2019
- 6 min de leitura
Este artigo é complementar ao artigo sobre BYOD-traga seus próprios dados, e não "dispositivos" (mas não é dependente).

Nestes mais de 20 anos que trabalho como AD/DBA, sempre com análise de dados, ciência de dados e afins, aprendi muitas lições importantes, mas uma delas tende a garantir muitos benefícios e poucos riscos às instituições: o compartilhamento de dados que não são sigilosos, ou cujo impacto desse compartilhamento seja muito pequeno.
Nos últimos mais de 20 anos trabalho em instituição financeira (seja como prestador de serviços ou como empregado contratado), regida por normas pesadas de segurança da informação.
Uma mudança cultural
No Brasil, e em especial no serviço público/instituições públicas, há forte cultura de "caça às bruxas". Nestas instituições há regras rígidas e complexas que raramente conseguem ser seguidas à risca. Porém como agentes públicos que tentam seguir aos princípios da boa gestão pública, devem sempre aterem-se à: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (decore as iniciais de LIMPE). Perceba que moralidade e eficiência são conceitos meio vagos e que são sujeitos a interpretações diversas em diversas culturas. Ainda mais num Brasil multicultural.
Na iniciativa privada, em especial em entidades mais inovadoras, entretanto, há forte cultura de "caça às fadas". Ao invés de procurar culpados pelos acontecimentos, procuram àquelas pessoas que contribuem mais e melhor para as instituições.
Mas o que isso tem a ver com o compartilhamento de informações? Por conta da cultura de "caça às bruxas", na dúvida sobre quais informações serão classificadas com diferentes graus de sigilo, profissionais preguiçosos ou sem alçada para classificar tendem a atribuir graus elevados para todos os dados. Assim, mesmo dados menos críticos (quantidade de clientes por sexo, faixa etária, etc.) quase sempre são de conhecimento de poucas áreas da empresa, isso quando os dados de determinada área se restringe aos clientes que compraram os produtos dessa área.
Seria o mesmo que disponibilizar dados dos clientes do carro SUV ABC apenas para as equipes que desenvolveram o SUV ABC, perdendo oportunidades de oferecer o novo sedam para clientes que já passaram 3 anos com o SUV.
Mudanças culturais nos tiram da zona de conforto, e abrem bem a mente às novas possibilidades.
Master Data / dados mestres
OK, mas por onde começamos a disponibilizar os dados? Provavelmente todas as médias e grandes instituições têm dezenas (ou centenas) de sistemas. Para integrá-los mantidos sistemas de dados compartilhados, ou ainda sistemas de dados mestres. Essa qualificação dos dados é importante e todas as informações constantes nestes dados compartilhados são fortes candidatas a serem eleitas para aumento da sua visibilidade dentro da empresa.
Outrora, quem sabe, escrevo sobre dados mestres das empresas. Artigos na Internet não faltam.
Compartilhando
Mas se cada tecnologia se comunica de uma forma diferente. Como compartilhar esses dados para ter amplo alcance? Aí entram tecnologias de Web Services ou algum padrão de troca de dados simples. Escolha um padrão (preferencialmente mais comum na sua empresa) e divirta-se. Quer uma sugestão? JSON, XML ou WSDL. Cada um tem suas vantagens e desvantagens. Obs. é possível que os bancos de dados padronizados da sua instituição aceite leitura de um destes formatos nativamente. Avalie com carinho esta possibilidade.

Se cabe uma sugestão, diante da amplitude do alcance do banco MS SQL Server, sugiro JSON, já que esse banco carrega dados diretamente a partir desse formato.
Ô Microsoft, aceito uns cursos lá em Redmond, talkey? Não esquece das passagens e da hospedagem!
Se seu ecossistema for SAP, há vários plugins e acessórios para ler diversos formatos. Já usei com simplicidade QaaWS (Query as a Web Service) usando WSDL.
DaaS
Toda essa tecnologia de comunicação permitirá que você implante na empresa o conceito de Dados como Serviços (Data as a Service). Importante citar que iniciar com dados relativamente públicos com a instituição, serve para popularizar o conceito. Para que todos possam usar e reusar os dados mestres, evitando que se tenha dezenas de tabelas de produtos na empresa. Aumentando também a governança da informação, uma vez que teremos conceitos unificados, e principalmente dados com fontes primárias únicas. Quantas tabelas de clientes sua empresa tem? No banco onde trabalho são diversas. A unificação destas tabelas nas centenas de sistemas se tornou quase utópica.
Como Web Services (WS) permitem controles de acesso, a sugestão de início com dados compartilhados não impede que a solução evolua para definição de padrão de compartilhamento de dados em geral por meio de serviços.
Porém a tecnologia envolve transferência de mais dados nos arquivos do que só os dados que interessam (xml, cabeçalhos, protocolos), o que dificulta movimentação de grandes volumes de dados. Para esse tipo de movimentação (para fazer grandes extrações, replicações e análise de Big Data, por exemplo), recomenda-se transferência de arquivos. Não quer dizer que não possa ser feito. Depende da sua infraestrutura. Se tenho máquina e banda sobrando, posso fazer desta forma. Mas como recursos nunca sobram, recomendo que avalie com cautela se quiser transferir grandes volumes de bancos de dados usando WS.
Ferramentas de replicação de dados (e grandes volumes) mais modernas normalmente transferem apenas os deltas (as variações/movimentações), e não os bancos todos.
Catalogo documentado
Neste ponto temos dois tipos de documentação:
* documentação negocial, em linguagem natural. Uma forma de fazer propaganda do catálogo. Para que todos saibam o que tem em cada serviço.
* documentação técnica. Algo como um WSDL, ou especificação do JSON, por exemplo, apesar de ter claramente na primeira linha essas informações.
Nestes pontos, lembre de conversar e envolver bem equipes de administração de dados. São profissionais essenciais para apoio na confecção deste catálogo.
Publicidade
Concluída confecção de parte dos serviços e catálogos, é hora de publicizar. Faça uma comunicação geral para sua empresa. Se for o caso, coloque no jornal da Intranet, nos elevadores.
Mais importante que confeccionar os serviços e catalogá-los, é que sejam usados. Não adianta termos dezenas (centenas) de profissionais desenvolvendo suas soluções Shadow IT (que não passam pelo crivo dos AD), sendo que cada um passa a criar sua tabela de unidades/departamentos, produtos ou clientes.
Finalmente, quando a empresa estiver usando dados comuns, teremos os benefícios já citados de unificação dos dados, usando tabelas com códigos comuns, algo que é o sonho de consumo dos AD. Também teremos, e este considero o maior do s benefícios, mais gente analisando dados.
Mais gente analisando dados
Muitas vezes (na empresa onde trabalho é assim), faltam dados para serem analisados. As análises são feitas com dados parciais, e gasta-se muito tempo para saber quais dados são disponíveis e mais tempo ainda para se obter os acessos aos dados. Isso sem falar nas tecnologias tão heterogêneas que cada integração de dados é um projeto a parte. Entenda cada integração como sendo cada inclusão de dados no meu sistema Shadow IT.
Com o catálogo e os serviços disponíveis, eliminamos o tempo para se obter dados. Reduzimos o tempo para se analisar quais dados poderão compor nossas análises: todos dados públicos estarão disponíveis. Reduzimos os tempos de integração: todos seguirão o mesmo padrão, e um padrão que é bom para a maioria da empresa.
Com tantas reduções de tempo, sobrará tempo para fazermos mais integrações de dados ou analisar dados destas integrações.
Hoje, departamentos negociais já contam com profissionais de TI disfarçados de micreiros, técnicos ou programadores. Além destes profissionais, muitos analistas de negócio já contam com competência para análise usando ferramentas de BI modernas e mais simples que aquelas dos anos 2000. Hoje, temos milhares de fuçadores de Excel, PowerBI, Tableau, Qlik, Alteryx, ...
Se quiserem pagar um jabá pela indicação, é só entrar em contato!
Não adianta a área de TI dizer que só ela vai disponibilizar informações. Bullshit! Isso não vai acontecer. As áreas negociais vão pegar seus dados do jeito que conseguirem. Se a área de TI quiser ajudar, vamos criar essa cultura voltada para inovação, e que todos possam analisar seus dados, com menos burocracia.
Será a uma dentre tantas formas de por em prática os princípios de disrrupção digital citados no Fórum Econômico Mundial, com destaque especial para o princípio da colaboração, uma vez que, ao criar uma infraestrutura que fornece um ecossistema de ferramentas e informações para seus bancos de dados, incentivamos a cultura colaborativa e analítica.
A TI é especialista em melhoria na escalabilidade. Ao gerenciar o que a TI é especialista, ganhamos o princípio da Escala (primeiro do link logo acima).
Todos os pontos desta rede são afetadas, garantindo a sustentação (princípio da sustentabilidade). O único ponto onde a TI não é tão especialista, é repassado ao gestor.
Quando iniciamos com dados públicos, agregamos grande valor, sem aumentar as vulnerabilidades. Principio da proteção dos dados. Da segurança da informação. Isso já garante melhoriados resultados. Acredite.
Quando começarmos a trabalhar com dados restritos / confidenciais, já teremos adquirido maturidade para conseguirmos manter o catálogo de dados como serviços. Assim facilitando bem a disponibilização das informações para geração de valor, sem fragilizar a segurança.
Vamos construir uma TI que deixe que os gestores/usuários trabalhem. Se não conseguimos ajudar com a geração de valor, não vamos atrapalhar. O restante conseguimos aplicar sem grandes dificuldades.
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